Entenda como Funciona as Verbas Rescisórias
A rescisão do contrato de trabalho é um procedimento complexo e significativo, que exige uma compreensão detalhada das normas legais que regem as verbas rescisórias e as diferentes formas de término do contrato. Este processo envolve o cálculo de valores devidos ao trabalhador, que variam conforme o tipo de demissão e o tempo de serviço. A Reforma Trabalhista de 2017 trouxe mudanças importantes, simplificando procedimentos e estabelecendo prazos específicos para o pagamento das verbas.
Autor: Edmilson Galvão Publicação: 22/08/2024 Atualização: 22/08/2024
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A rescisão do contrato de trabalho é um processo crucial e sensível, tanto para o empregador quanto para o empregado. As verbas rescisórias, que compreendem diversos direitos adquiridos pelo trabalhador durante o período de vínculo empregatício, são elementos essenciais nesse processo. O entendimento e a correta aplicação das regras que regem as verbas rescisórias são fundamentais para evitar conflitos trabalhistas e garantir que os direitos dos empregados sejam respeitados conforme a legislação vigente.
As verbas rescisórias são um conjunto de valores a que o empregado tem direito ao final de um contrato de trabalho. Estes valores são determinados pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e variam de acordo com o tipo de demissão e as condições contratuais. Elas incluem, entre outros itens, o saldo de salário, férias proporcionais, 13º salário proporcional, e, em alguns casos, a multa sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
1. O que são verbas rescisórias?
As verbas rescisórias são valores devidos ao empregado quando ocorre a rescisão do contrato de trabalho. Elas estão diretamente ligadas aos direitos trabalhistas que o colaborador acumulou durante sua permanência na empresa. O cálculo e o pagamento dessas verbas variam de acordo com o motivo da rescisão, podendo incluir diferentes elementos como saldo de salário, horas extras, adicional noturno, férias vencidas ou proporcionais, 13º salário proporcional, entre outros.
A CLT regula o pagamento das verbas rescisórias, e a Reforma Trabalhista de 2017 trouxe mudanças significativas em alguns aspectos desse processo. Segundo o Artigo 477 da CLT, que trata especificamente das regras para a rescisão contratual, o empregador é obrigado a realizar a anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), comunicar a dispensa aos órgãos competentes e efetuar o pagamento das verbas rescisórias no prazo estabelecido.
2. Mudanças trazidas pela Reforma Trabalhista
A Reforma Trabalhista de 2017 alterou diversas normas da CLT, inclusive as que regem o pagamento das verbas rescisórias. Uma das principais mudanças foi a revogação da obrigatoriedade de homologação da rescisão junto ao sindicato da categoria ou ao Ministério do Trabalho, que hoje está a cargo da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho (SEPT). Essa alteração simplificou o processo de rescisão, especialmente para contratos com mais de um ano de duração.
Além disso, a Reforma estabeleceu um prazo de até 10 dias para que o empregador pague as verbas rescisórias ao empregado, independentemente do tipo de aviso prévio concedido (trabalhado ou indenizado) ou da parte que solicitou a rescisão (empregador ou empregado). Esse prazo é contado em dias corridos, excluindo-se o dia do começo e incluindo-se o do vencimento. O descumprimento desse prazo resulta na aplicação de uma multa em favor do empregado, equivalente ao valor de seu salário.
3. Tipos de rescisão de contrato de trabalho e as respectivas verbas rescisórias
Existem diferentes tipos de rescisão de contrato de trabalho, e cada um deles implica no pagamento de verbas rescisórias específicas. Abaixo, detalhamos como cada tipo de demissão influencia nos direitos do trabalhador e nas obrigações do empregador.
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PEDIDO DE DEMISÃO: Quando o colaborador decide voluntariamente deixar a empresa, ele tem direito a receber o saldo de salário, 13º salário proporcional, férias vencidas (se houver) e férias proporcionais acrescidas de 1/3 constitucional. Neste caso, o empregado perde o direito à multa de 40% sobre o saldo do FGTS e ao saque do FGTS, além de não poder receber o seguro-desemprego. Se o colaborador optar por não cumprir o aviso prévio, ele deverá indenizar a empresa pelo período correspondente.
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DEMISSÃO POR ACORDO: Esse tipo de rescisão foi introduzido pela Reforma Trabalhista de 2017 e ocorre quando empregador e empregado concordam em encerrar o contrato de trabalho. Nesse cenário, o colaborador tem direito a metade do aviso prévio, saldo de salário, 13º salário proporcional, férias vencidas e proporcionais acrescidas de 1/3 constitucional, além de metade da multa de 40% sobre o saldo do FGTS (ou seja, 20%). Neste caso, o empregado também pode sacar até 80% do FGTS depositado.
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DEMISSÃO SEM JUSTA CAUSA: A demissão sem justa causa é a forma mais comum de rescisão contratual e ocorre quando o empregador decide encerrar o contrato de trabalho sem que o empregado tenha cometido uma falta grave. Nesse caso, o colaborador tem direito a receber saldo de salário, 13º salário proporcional, aviso prévio (trabalhado ou indenizado), férias vencidas e proporcionais acrescidas de 1/3 constitucional, e a multa de 40% sobre o saldo do FGTS. Além disso, o trabalhador pode sacar o FGTS e tem direito ao seguro-desemprego, conforme as regras específicas do benefício.
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DEMISSÃO POR JUSTA CAUSA: Este é o tipo de demissão mais severo, aplicado quando o empregado comete uma falta grave prevista no Artigo 482 da CLT, como insubordinação, abandono de emprego, embriaguez habitual, entre outros. Quando ocorre a demissão por justa causa, o colaborador tem direito apenas ao saldo de salário e às férias vencidas acrescidas de 1/3 constitucional, perdendo o direito ao 13º salário proporcional, aviso prévio, saque do FGTS e à multa de 40% sobre o saldo do FGTS, além do seguro-desemprego.
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RESCISÃO INDIRETA: A rescisão indireta é aplicada quando o empregador comete faltas graves, previstas no Artigo 483 da CLT, que tornam insustentável a continuidade do contrato de trabalho. Nesses casos, o empregado pode solicitar a rescisão contratual com as mesmas garantias e direitos de uma demissão sem justa causa. Portanto, ele receberá saldo de salário, 13º salário proporcional, aviso prévio, férias vencidas e proporcionais acrescidas de 1/3 constitucional, além da multa de 40% sobre o saldo do FGTS, e poderá sacar o FGTS e receber o seguro-desemprego.
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RESCISÃO POR FALECIMENTO DO EMPREGADO: No caso de falecimento do empregado, o contrato de trabalho é automaticamente extinto, e os familiares do falecido têm direito a receber as verbas rescisórias, que incluem saldo de salário, 13º salário proporcional, férias vencidas e proporcionais acrescidas de 1/3 constitucional, além do salário-família, se houver.
4. Prazos e penalidades no pagamento das verbas rescisórias
O prazo para pagamento das verbas rescisórias é um dos pontos mais críticos no processo de rescisão. A legislação estabelece que o empregador deve efetuar o pagamento no prazo máximo de 10 dias após a rescisão do contrato de trabalho. Esse prazo é contado em dias corridos, e o descumprimento dessa regra implica na aplicação de uma multa em favor do empregado, correspondente ao valor de seu salário. Essa multa é uma forma de garantir que o empregador cumpra suas obrigações de maneira tempestiva, evitando prejuízos financeiros ao trabalhador.
As convenções e acordos coletivos de trabalho também podem estabelecer prazos diferentes, desde que sejam mais benéficos ao trabalhador. Em tais casos, as cláusulas que estipulam prazos menores para o pagamento das verbas rescisórias ou que impõem multas superiores às previstas na CLT prevalecem sobre a legislação geral, e devem ser rigorosamente observadas pelo empregador.
Conduzir o processo de rescisão de contrato de forma transparente, justa e em conformidade com a legislação é fundamental para evitar conflitos trabalhistas e preservar a reputação da empresa. A rescisão é um momento delicado, e as empresas devem ter em mente que, além de cumprir suas obrigações legais, é essencial tratar o ex-colaborador com respeito e empatia.
A clareza na comunicação durante o processo de rescisão, o correto preenchimento dos documentos necessários e o pagamento tempestivo das verbas rescisórias são práticas que demonstram a seriedade e o compromisso da empresa com seus colaboradores, mesmo no momento da despedida.
O processo de rescisão de contrato de trabalho envolve uma série de obrigações legais e procedimentos que devem ser rigorosamente cumpridos pelo empregador. O pagamento das verbas rescisórias é um direito fundamental do trabalhador e, portanto, exige atenção e cuidado por parte da empresa. A Reforma Trabalhista de 2017 trouxe importantes alterações nesse processo, simplificando alguns procedimentos e estabelecendo prazos mais claros para o cumprimento das obrigações trabalhistas.
Independentemente do tipo de rescisão, é essencial que o empregador siga à risca as disposições legais, garantindo que todos os direitos do trabalhador sejam respeitados e que o processo seja conduzido de maneira justa e transparente. Além disso, estar atento às particularidades das convenções e acordos coletivos de trabalho é crucial para assegurar que as normas mais favoráveis ao empregado sejam aplicadas.
Um processo de rescisão bem conduzido não só evita problemas legais, como também preserva a imagem da empresa e demonstra respeito pelos colaboradores, mesmo na despedida.
É sempre aconselhável que na hora de requerer seus direitos procure um advogado especialista em Direito Trabalhista.
Escrito por:
Possui mais de 8 anos de experiência atuando como perito contábil do juízo em varas da Justiça Federal, Estadual e da Justiça do Trabalho além de atuar como consultor em matéria de cálculos judiciais para Escritórios de Advocacia, Empresas e Advogados.